Rei de tudo

Rei de ouro
rei de pau
rei de ferro
rei de espadas
repara naquele menino
sentado na imensa escada:
não tem pai
não tem rei
não tem patrão
tem nos olhos esfomeados
o triste jeito do cão
tem na boca desdentada
o amargo gosto do pão.

Rei de prata
rei de pedra
rei de terra
rei de facas
repara naquele velho
sentado na imensa escada:
não tem casa
não tem mulher
não tem razão
tem nos gestos adoentados
uma vida toda em vão
e tem nas mãos calejadas
a triste marca do não.

Rei de lata
rei de folha
rei de pó
rei de metralhas
repara naquelas vidas
sentadas na imensa escada:
não têm força
não têm cova
não têm pão
têm nas vidas abandonadas
a marca da tua mão
e trazem atado às costas
o peso dos que não são.
cássia/mg-fevereiro1979

Antonio Medeiro

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