Boca

Poemas adolescentes

Boca vermelha,
grande,
feia,
ardente,
metamorfose da rosa
ilusionária e quente,
formosa,
esplendorosa,
poderosa
e inconsequente.

Boca grande
de fundo de céu
banhado de sangue,
de deus fugindo,
diabo atentando.

Boca quente de beijo,
arrependida do ardor,
do calor,
do horror,
com que tocou outra boca.

Boca que morde,
canta,
grita,
engole,
boca de todo mundo,
boca que nem é boca,
boca que é o grilhão
e a liberdade,
boca que é o canhão
e a serenidade.

Boca fechada pelo homem,
já não fala,
não grita,
não protesta,
não deixa escorrer,
em seu canto,
o sangue
na palavra do seu ideal.

Boca pálida,
rosa branca
só de deus todo poderoso,
bondoso.
Não mate,
não lute,
não rebele contra o homem.

Boca que se abre
e deixa flutuar na língua calada
o direito eterno e humano
de gritar por um beijo de liberdade.
São Paulo/Sp-21Julho1974

Antonio Medeiro